Jan 5, 2012

2012 e os Planos Desfocados


As pessoas criaram essa ideia de que uma nova volta em torno de uma bola gigante de fogo serve não apenas para renovar o bronzeado como também pra apertar reset e resolver todos os problemas. Cinco, quatro, três, dois, um e alakazan, um cérebro tão liso quanto a bunda de um bebê. 

Tenho alguns problemas. Poucos, disfarçados de vários. Nunca acertam o que é que tá pegando quando tentam adivinhar qual é a onda da vez. O que eu acho surpreendentemente bom demais, porque problemas são caras meio tímidos e não gostam de ser expostos e discutidos por ai como uma receita num Programa de Culinária. Não, você deixa eles lá, soterrados, e funciona muito bem. Daí eles saem de vez em quando querendo dizer 'Ei! Ei ei ei! Ei.', e ai você escuta eles por algumas horas e quanto se distraem, você soterra eles. De novo. Problemas são caras muito egocêntricos e custam a notar o que é que está acontecendo em volta, tipo um amontoamento de terra ao seu redor. Não são problemas do sentido ó-meu-Deus-que-horror, mas são problemas, tão irritantes quanto uma TPM. Algumas pessoas diriam: resolva-os! Mas veja bem, meu bem, se fossem coisas que você resolve como uma equação, pra começar, nunca teriam virado problemas. Não é verdade? Certas coisas existem só pra dar algum sentido naquela última semana do mês. Talvez seja um mal necessário. Ou não. Talvez seja só eu argumentando coisas sem sentido pra fugir dos problemas, aqueles cabeludos.

Mas sabe, é esse tipo de coisa que torna a coisa interessante. Quero dizer, faz meses que não assisto um trailer que me dê vontade de assistir o filme. Eu penso: "O que? Só isso? Minha vida daria um filme muito mais legal." Deve ser uma certa tendência a ter que ter algo pra resolver. Ou se enrolar. Meus filmes preferidos são os mais confusos e bagunçados possíveis. Ou pelo menos a história de um cara que foi despedido e resolveu assaltar o chefe. Por falta do que fazer que seja, vamos pendurar um carro no centésimo andar, num guindaste, escalar a corda até nele. Depois a gente vê o que acontece, não é mesmo? Diga uma coisa, e faremos. Sem essa de análise. Sem essa de planos. Sem essa de expectativas. 2012, você é uma folha em branco. Faça o que quiser. Só não abro mão da Irlanda.

Um cara, desses que vive no nosso planeta, disse que uma das coisas mais sensacionais da vida dele foi uma noite no deserto. Que não se enxergava nem 1 palmo a sua frente. Um mar de escuridão. E resolveram correr. Pra qualquer lado. Até que alguma duna de areia entrasse no meio do caminho. Só correr. E eles corriam. E riam. E corriam.Você entende isso? Porque É isso. 

Como uma câmera desfocada. Onde não se enxerga nada e tudo ao mesmo tempo. E você decide o que quer enxergar.

Da série: desafios de um ano novo.

Manifestações
0 Manifestações

0 almas se manisfestaram.: